31 Outubro 2022

Check Up #8 - Cancro familiar, cancro hereditário

O que os distingue?

Check Up #8 - Cancro familiar, cancro hereditário. O que os distingue?

Todos os cancros são de natureza genética, na medida em que todos têm a sua origem em mutações genéticas que ocorrem dentro das células. Mas a origem dessas mutações varia: podem ser devidas a factores ambientais (por exemplo, à exposição a substâncias cancerígenas tais como o fumo do tabaco ou as partículas amianto), mas também a erros ocorridos, ao acaso, durante a replicação do ADN durante a divisão celular de qualquer célula do corpo. Estes erros imprevisíveis, aleatórios, são responsáveis por quase dois terços das mutações causadoras de cancros. Por último, os cancros também podem ser devidos a mutações genéticas transmitidas pelos pais aos seus filhos, através dos espermatozóides do pai ou dos ovócitos da mãe (as células ditas germinais). Trata-se então de cancros hereditários.

Apenas uns cinco por cento de todos os cancros são hereditários. Alguns dos cancros que podem ser hereditários são os da mama, do cólon, da próstata, dos ovários, do útero, o melanoma e o cancro pancreático. Mas isso não significa que uma pessoa que herde uma mutação causadora de cancro vá inevitavelmente desenvolver cancro; significa apenas que essa pessoa tem uma predisposição para desenvolver esse tipo de cancro – ou seja, um risco mais elevado de o desenvolver que a maioria das pessoas. Já foram identificados mais de 50 genes envolvidos na predisposição para desenvolver cancro.

Talvez as mais mediáticas mutações genéticas hereditárias sejam as mutações dos genes BRCA1 e BRCA2, que são responsáveis por cancros da mama e dos ovários hereditários. Falou-se muito delas há uns anos, quando a actriz Angelina Jolie decidiu submeter-se a uma mastectomia dupla e à remoção total dos ovários e trompas de Falópio depois de lhe ter sido detectada uma mutação no gene BRCA1 (três mulheres da sua família tinham morrido destes cancros hereditários).

A identificação das famílias com potenciais cancros hereditários é muito importante, porque permite que os membros dessas famílias beneficiem de medidas eficazes de diagnóstico precoce e até de prevenção.

Mas o que dizer das pessoas que têm um certo número de parentes que tiveram cancro? Será que elas herdaram genes defeituosos dos seus progenitores? A resposta é Não. Os cancros familiares nem sempre são hereditários. Longe disso.

Há maneiras de distinguir os cancros hereditários daqueles que, apesar de estarem presentes na mesma família, não são hereditários. Por exemplo, se os cancros numa dada família não se desenvolvem em idades mais precoces do que é normalmente expectável, é provável que não sejam devidos a defeitos genéticos herdados dos pais. E se os parentes que desenvolveram cancro tiveram diferentes tipos de cancro em diversos órgãos, ou eram parentes distantes ou de ambos os lados da família, a mesma conclusão se aplica. 

Por outro lado, dado que, nos países desenvolvidos, cerca de  uma em cada três pessoas irá desenvolver cancro durante a sua vida, não é infrequente ter um certo número de casos de cancro numa mesma família. Além disso, o cancro poderá ser mais frequente nalgumas famílias, não por causa de genes defeituosos herdados, mas porque os membros da família têm em comum estilos de vida e factores ambientais. Ora, é bem sabido que o tabagismo e a obesidade, por exemplo, são importantes factores de risco para o cancro.

Fontes:

https://www.cancer.org 
https://www.cooperhealth.org
https://www.cancerresearchuk.org
https://www.yalemedicine.org
https://www.hopkinsmedicine.org
https://www.cnio.es/
https://www.genomemedical.com 
 

Por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.
Revisto por: Professor António Parreira, Diretor Clinico do Centro Clínico Champalimaud.
Loading
Por favor aguarde...